Assalto em relojoaria na Praça do Ferreira |
8 horas da manhã, sábado,
Centro de Fortaleza. Vendedora da loja de ótica e joias, localizada na Praça do
Ferreira, indica aos policiais para onde o assaltante correu. Ronda e Raio
(unidades da Polícia Militar do Ceará) instalam-se em frente à loja e apuram
que foi levado dinheiro e mercadorias do estabelecimento comercial e saem à
procura do suspeito.
Esse caso combina com
as estatísticas. Segundo a ONG Conselho Cidadão para a Segurança Pública e
Justiça Penal, Fortaleza ocupou em 2012 o 13º lugar entre as cidades mais
violentas no mundo. E mais relatos confirmam os números, como é o caso de
Ernane Silva, estudante de publicidade, que já foi assaltado três vezes no
mesmo bairro, em menos de quatro meses. “Eu não me sentia ameaçado ao andar
pelas ruas do Centro até que aconteceu a primeira abordagem, próximo a Praça da
Bandeira. A minha sensação ao andar nas ruas do Centro agora é de pavor. Ando
apressado e me preocupo com a aproximação de estranhos. Respiro aliviado quando
chego ao meu local de destino”, desabafa.
Ignorando os casos
listados pela SSPDS, o ambulante Luis Aguiar, que trabalha no entorno da Praça
do Ferreira há mais de um ano, acha que os casos de assaltos no local
diminuíram. “Acho que a população se acostumou com a insegurança e não anda
mais dando mole, não anda de cordão, relógio...”, sugere ele, que só trabalha
na praça porque lá “tem mais policiamento”.
Padre Ligório e sua congregação distribuem alimentos |
Mas, à revelia da
insegurança, o Centro da cidade insiste em sobreviver em atos e atividades
variadas. O padre Ligório mora no bairro da Lagoa Redonda, mas vai ao Centro,
todos os fins de semana, distribuir comida para moradores de rua. Ele conta com
a ajuda da sua congregação na distribuição de pão, bolo e suco. “Queremos
expandir nossas atividades sociais como cortar unha, trazer medicamentos e
trazer médicos para o local”, planeja.
É no Centro que o Hemoce
tem o maior número de doadores. Instalados na Praça do Ferreira com a campanha
de doação de sangue para o feriado da Semana Santa, a supervisora do órgão relata
que são em torno de 120 doações por dia no local. “O número de pessoas que
circula aqui é muito grande, então conseguimos muita gente”, conclui.
A
cultura
Nova sede da Secult |
A cultura também está
presente nas ruas do bairro. Literalmente. Desde abril de 2012 a Secretaria de
Cultura do Ceará (Secult) mudou sua sede para o Centro (Rua Major Facundo,
500), onde funciona o cine São Luiz – inaugurado em 1958. O prédio está
passando por reformas e, segundo a edição de 27 de março do jornal O Povo, vai
custar 5,3 milhões.
Já a Casa Juvenal
Galeno, localizada na Rua General Sampaio, é um dos locais mais antigos de
propagação de cultura de Fortaleza. O prédio é de 1886 e já recebeu
personalidades importantes para a arte do Ceará e do Brasil, como Rachel de
Queiroz, Euclides da Cunha, Gustavo Barroso, Antônio Sales, Leonardo Mota,
Jáder de Carvalho e Patativa do Assaré.
O Sobrado Doutor José
Lourenço foi o primeiro prédio de três andares de Fortaleza e, depois de ser a
casa do médico no século XIX, foi Tribunal de Justiça, galpão, armazém e
bordel. “Essa última finalidade, já no século XX, foi a mais animada do prédio,
tenho certeza”, conta Amanda Breckenfeld, guia e estudante de história que
apresenta aos visitantes os artistas que expõem no casarão.
Outros centros
distribuidores de cultura habitam o bairro como, por exemplo, o Museu do Ceará,
o Centro Cultural do Banco do Nordeste (CCBN) e a Praça dos Mártires (Passeio
Público). Esse último, totalmente restaurado e revitalizado, mantém programação
semanal com música, exibição de filmes e exposições periódicas.
O
comércio variado
Há um ano Gleison Abreu
abriu sociedade com duas amigas e criou uma empresa de produtos artesanais. Mas
o impasse veio ao escolherem o lugar para abrir o escritório. “Na Aldeota é
mais bem visto, mas o Centro tinha aluguéis mais baratos”, conta o empresário,
que depois do primeiro mês já tinha decidido: não sai mais do Centro da cidade.
“O Centro foi uma grande surpresa para nós, estamos adorando. Falam de
segurança, mas se for por isso, Fortaleza toda é insegura”. O escritório fica no
edifício General Tibúrcio, na Rua São Paulo, que também acomoda outros jovens
empresários que fugiram dos aluguéis altos, como é o caso das jornalistas da
Dedo de Moças Editora e das estilistas de acessórios da Catarina Mina.
Valci Rocha (blusa listrada) e seus filhos |
Perto dali, fica a
Travessa Crato. Lá é possível achar todo tipo de ‘bugiganga’ para o lar.
Desentupidor para fogão a gás e borracha para panela de pressão. Há 50 anos, Valci
Rocha tem loja de ferragens no local e o negócio já está passando para a mão dos
seus cinco filhos. “Minha vida toda foi e é no Centro”, resume. Na travessa
também fica a mercearia de Raimundo dos Queijos, que vende produtos regionais,
além de incentivar uma seresta aos domingos pela manhã.
Já a Galeria Pedro
Jorge, conjunto de lojas situado entre as ruas General Sampaio e Senador
Pompeu, é o oásis dos evangélicos e dos roqueiros. Esse último grupo, mais
antigo no local, está espalhado nas lojas de tatuagens, piercings, skate,
blusas. A loja Opus, que vende do punk
ao heavy metal (estilos musicais),
está no local há 20 anos com um público cativo e fiel.
Confira mais imagens do Centro de Fortaleza em nossa Galeria de Fotos
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