Raquel, sentada na Praça dos Leões, observa. Estão
diferentes os frequentadores, os que usam seus bancos para tirar uma soneca
após o almoço, os que ocupam a praça por não terem aonde ir. Acha estranho os
barulhentos vendedores de livros. "Quer livro, senhora?", "Não,
obrigada, já escrevi muitos...".
Procura os casais enamorados, as sombrinhas e os passeios
descompromissados em volta da praça. Era meados de 1900... faz tempo. Não acha
alma viva, todos mortos. Olha para General Tibúrcio, impávido no centro da
praça, e se pergunta se a guerra foi em vão. "No Paraguai ou aqui,
Tibúrcio, nunca valeu a pena guerra alguma".
Perdeu seus óculos e acha que anda vendo coisas. Traça um
caminho mental até a Rua do Rosário e para em frente a Academia. "Fui a
primeira, mas não sei hoje em dia qual é o número da minha senha", pensa.
Seu pensamento Volta pela Praça do Ferreira, quer saber as horas. "Hora de
descanço na eternidade". Pensa e ri sozinha.
Bom mesmo seria descer pela Major Facundo até o Passeio
Público, idealiza. "A maresia me faria bem". Mas sente o frio dos
anos no cair da noite e já ouviu de uma moça que vinha de uma loja lá das
américas que ao andar por ali perdeu sua correntinha de ouro. Não quer perder
mais nada, já basta seus óculos. Sente falta deles, o mundo anda muito
embaçado. É... é melhor ficar onde está. Estátua.
Andrea Araujo
Andrea Araujo
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