sábado, 30 de março de 2013

Quase um passeio



Raquel, sentada na Praça dos Leões, observa. Estão diferentes os frequentadores, os que usam seus bancos para tirar uma soneca após o almoço, os que ocupam a praça por não terem aonde ir. Acha estranho os barulhentos vendedores de livros. "Quer livro, senhora?", "Não, obrigada, já escrevi muitos...".
Procura os casais enamorados, as sombrinhas e os passeios descompromissados em volta da praça. Era meados de 1900... faz tempo. Não acha alma viva, todos mortos. Olha para General Tibúrcio, impávido no centro da praça, e se pergunta se a guerra foi em vão. "No Paraguai ou aqui, Tibúrcio, nunca valeu a pena guerra alguma".
Perdeu seus óculos e acha que anda vendo coisas. Traça um caminho mental até a Rua do Rosário e para em frente a Academia. "Fui a primeira, mas não sei hoje em dia qual é o número da minha senha", pensa. Seu pensamento Volta pela Praça do Ferreira, quer saber as horas. "Hora de descanço na eternidade". Pensa e ri sozinha.
Bom mesmo seria descer pela Major Facundo até o Passeio Público, idealiza. "A maresia me faria bem". Mas sente o frio dos anos no cair da noite e já ouviu de uma moça que vinha de uma loja lá das américas que ao andar por ali perdeu sua correntinha de ouro. Não quer perder mais nada, já basta seus óculos. Sente falta deles, o mundo anda muito embaçado. É... é melhor ficar onde está. Estátua.

Andrea Araujo

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