domingo, 2 de junho de 2013

A chave do saber sumiu

Página em branco: este foi o resultado da visita à biblioteca pública

Sigo o raciocínio de quem está em pesquisa para o trabalho de conclusão de curso e transformei o sábado em visita alegre à Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, onde o ano de 1968 e as crônicas publicadas no jornal O Povo surgiriam para mim.

De cara, fui surpreendida com o eco no local. Quase ninguém habitava os cinco andares do imenso prédio, que foi criado em 1867. Mesmo com a informação da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult) de que a visitação ao local é de 10 mil usuários por mês, fiz umas contas malucas que não se encaixaram: em média, 370 leitores, pesquisadores e curiosos deveriam habitar as cadeiras e estantes da biblioteca. Naquele sábado faltaram todos.

Minha segunda surpresa, ao chegar ao abafado e quente setor de periódicos, localizado no segundo andar, foi a porta fechada da sala de microfilmagem, com meu objeto trancado dentro dela.
“A chave sumiu”, dizia o atendente, empenhado na procura. O rapaz subiu, desceu, telefonou, suou e nada. Outros funcionários se envolveram na procura, também sem êxito. “Faz uns dias quem ninguém abre essa porta”, disse outro.

Apuraram (assim mesmo, sujeito indeterminado) que a porta estava com defeito há tempos e que era escorada por uma cadeira. Um desavisado do defeito fez o que se faz com qualquer porta, fechou. E lá se foi minha manhã de sábado morrendo de sede em frente ao mar.

Com o ocorrido, algumas preocupações – e olhe que fato pode até ter sido um fato isolado, causado por um funcionário relapso, é verdade – mas também é o retrato de um lugar abandonado pelos leitores. Quem ocupa os 2.272m² da biblioteca? Quem lê os 115 mil volumes das estantes? Onde estão os tais pesquisadores, leitores e curiosos? A sociedade está informada do precioso acervo que tem em sua cidade?

Se um país se faz com homens e livros, recorrendo ao lugar-comum de Monteiro Lobato, torço para que estes homens estejam lendo em outros locais, senão na biblioteca de porta trancada.




Andrea Araujo do Nascimento


ps.: até ser publicado este artigo, outra visita foi feita na biblioteca. Desta vez, das cinco máquinas de visualizar a microfilmagem, duas delas ligavam e apenas numa delas se conseguia ver nitidamente os documentos. É fogo!

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