sexta-feira, 26 de abril de 2013

O choro mais apreciado da cidade


Uma placa atrás do balcão já anuncia o horário de funcionamento: “De seg a sex, das 9h às 18:30h”. Mas já passam das 19 horas e o local ainda está lotado e com gente chegando e pedindo um pó de guaraná tradicional, um açaí ou qualquer outra opção que o cardápio traz. Esse é um cenário comum no Guaraná da Gorete, ponto já tradicional do bairro Benfica. 

Com sua simpatia, Gorete ou a Maria Gorete Gomes do Nascimento recebe todos os seus clientes que retribuem com carinho e paciência, já que chegam a esperar até mais de uma hora para receber o pedido. Sozinha, ela sustenta o seu estabelecimento que completa 17 anos em agosto desse ano e ganhou o gosto de fortalezenses que frequentam o bairro.

Gorete possui 48 anos e não tem filhos
Gorete nasceu em Parnaíba (PI) e veio para Fortaleza há 30 anos para trabalhar como doméstica, quando uma de suas três irmãs montou quiosques para venda de pó de guaraná e os delegou aos cuidados de cada uma das irmãs. “Foi essa minha irmã que me ensinou a fazer o pó de guaraná, mas ensinou tudo errado. Aos poucos fui me aprimorando, fazendo diferente do jeito dela e dos outros que vendiam na época. Hoje em dia, só eu que continuo com a venda do guaraná”, conta Gorete. 

O seu quiosque ficava em um supermercado próximo ao local atual do Guaraná da Gorete. Só depois de um tempo com quiosque que surgiu a oportunidade de alugar o seu próprio estabelecimento, o mesmo que é até hoje, ao lado da Praça da Gentilândia, no cruzamento das ruas João Gentil e Paulino Nogueira. 

Gorete começou a perceber que o seu guaraná estava ficando conhecido quando criaram uma comunidade na rede social Orkut e o jornal O Povo fez uma reportagem sobre o local, em 2005. Mas garante que o “boca a boca” foi o grande diferencial para o sucesso do estabelecimento. “Tem gente que diz que o guaraná da Gorete é o melhor, mas também depende de pessoa para pessoa”, explica. 

Clientes escrevem mensagens e assinaturas em banners espalhados pelo estabelecimento
Apesar da grande repercussão, a rotina cansativa fez com que ficasse doente e não abrisse mais aos sábados. “Teve uma época que eu tinha tontura, vinha uma angústia e tinha que me segurar para não cair. Fiz diversos exames e descobri realmente que estava com estresse”, diz. Mesmo assim, ela conta que tem dias que chega a fechar o local já depois das 20 horas.

Recepção
Não se sabe se é a sua simpatia ou o gosto único do guaraná, mas quem chega lá por volta de meio-dia ou a partir do final da tarde, vai encontrar o local lotado. Luiz Carlos trabalha no Shopping Benfica e conta que vai todo dia por volta das 18 horas ao Guaraná da Gorete antes de ir malhar. “Ela é um amor de pessoa, trata cada cliente com muito carinho e atenção, não importa o seu humor”, diz. Já Caroline Ximenes, estudante de Ciências Sociais na UFC, começou a frequentar o estabelecimento há quatro anos e meio por causa de um amigo, e comprova que ela é muito receptiva, simpática e amorosa com todos.
O guaraná tradicional é o mais vendido, mas o açaí está quase se igualando

E o contato com os clientes é justamente a maior alegria que Gorete tem em seu trabalho. “Todos aqui são bem recebidos, independente do nível social, são tratados do mesmo jeito. Então, eu consigo perceber essa troca com todo aquele carisma da maioria dos meus clientes, o que é gratificante para mim”. 

Essa troca consegue ser tão grande que um cliente fez até um soneto em homenagem a Gorete: 
 
SONETO À GORETE
Entre gritos e ronco de motores,
Com polpas e castanhas bem batidas,
Refrescas e estimulas nossas vidas,
És santa que alivia nossas dores.

Donas de casa, futuros doutores,
Velhos, moços, crianças bem nutridas,
Casais que se amam pelas avenidas,
Todos, enfim, se rendem aos teus sabores.

A Gorete faltar na nossa esquina
É faltar hóstia para a comunhão.
É não ter futebol neste país.

Agora, é te faltar com gratidão
Não ver que teu sorriso de menina
Traz energias mais que os açaís.


Talvez a Gorete seja, enfim, uma empreendedora. Não só por causa de seu estabelecimento que já dura 17 anos, mas por ser um exemplo de alegria, que faz um diferencial, também, no seu guaraná. Quem frequenta o Guaraná da Gorete espera mais do que o choro (restinho que sobra no liquidificador e é oferecido ao cliente), espera receber carinho e alegria.

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